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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A velha mais confusa

Eu sou uma velha que todos pensam que não pensa. Sou ''esclerosada e psicótica''. Esquecem-me na frente da televisão por quase um dia inteiro e vão para seus afazeres. Não percebem nem sabem que vejo e analiso tudo. Reparo que falam de mim, que me julgam. Vejo meu neto se entreter com Machado de Assis e faz ele muito bem. Vejo minha neta de 14 anos conversando ao telefone, dizendo à amiga que o teste de gravidez deu negativo ''graças a Deus''; isso por que ontem mesmo eu a ouvi jurando para a mãe ser virgem. Vejo meu genro enganando a trouxa da minha filha. Vejo nos olhos de minha filha que sente pena e dó de mim; porque agora não sou mais tão ''viva'' quanto era antes.
Para todos, só funcionam os meus olhos. Mas meu cérebro está aqui, mais ativo que nunca, fotografando as mais simples cenas cotidianas. Eu era escritora. Não dá pra acreditar? É, deve ser mesmo estranho ver um texto tão confuso como este e depois saber que foi uma escritora que o ''escreveu''. Não , não escrevi; é meu cérebro que registra. Está mais vivo que nunca. Já disse isso? Pare de ler isto; vá me julgar como os outros. Pense que sou sim uma velha ''esclerosada e psicótica'' que nunca foi jovem. Deixem meu cérebro em paz, pois assim, julgado como ''estragado'' ele pode funcionar sossegadamente.
É, eu disse a tempo a todos: ''É inútil lutar. Deixem-me morrer jovem.'' Mas estou velha e veja como acabei: esquecida em frente à uma tela de comerciais e programas capitalistas. Mas pelo menos me resta meu cérebro.
Ah, esqueça! Você, jovem, nunca entenderá o valor do cérebro na velhice.

H.Reis

Um comentário:

  1. Nossa que legal Lena! Muito bom texto e você escreveu super bem! ^^

    Parabéns!

    Ah! presenteei seu blog com um selinho lá do meu =)

    Beeijos!

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