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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Verdade no Asfalto

Eu quero um suicida que se mate e que se explique.
Não quero os covardes que se matam sem razão;
Quero saber se morreu de amor, de decepção ou xilique.
Mas não se sofreu antes e fez da vida arrastão
Para arrumar uma desculpa e dizer que ''viver não!''

Quero uma meretriz altiva e elegante,
Daquelas que humilham as mulheres ricas;
Fazendo com que sintam que não existia nada antes.
Quero a puta orgulhosa de si, mesmo que atenda pelo nome de Chica.

Quero um mendigo que peça sem vergonha
Que implore sem fingir, sem compaixão
Que deseje o dinheiro do burguês, do típico ''sem-vergonha''
Que deseja a mulher do amigo em seu colchão.

Enfim, quem é impuro? Quem é mau? Quem é pior?
O suicida que, por ele, tem razão?
A meretriz que vende seu calor?
Ou o mendigo que, sujo e verdadeiro, dorme no chão?

Matemos todos, finjamos não existir problema!
Mas, que fique claro, bem claro,
Que eles só são eles no poema
Por que nós os inventamos nessa vida,
E os obrigamos a viver nesse mundo seco e amaro.

H.Reis

Momento Manuel


Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

domingo, 19 de dezembro de 2010

Onde tudo começa

Tinha um caminho no meio da pedra.
Caminho arriscado, traçado, marcado.
E assim, quanto mais rochas se empedrava,
Mais um caminho no fim se formava-
-A Persistência.

Até que os caminhos juntos formaram um só.
E como um coração que procura a metade
E acaba por achar e se completar,
Os caminhos chegaram numa estrada.
-A Esperança.

Estrada grande, estrada finita.
Até que encontrasse alguém para infinitá-la
E num segundo está aqui o descobridor -
O Mundo!

Olhe no olho do companheiro frio,
do companheiro inglês que não encara,
E encontrarás uma pedra, um começo de caminho-
A Vida!

H.Reis