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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Criança é fogo!

A Bala Sem Bola

Edu vinha tendo problemas com açúcar. Comia doce demais. Ia pra casa da avó, ela dava bolo, balas, chocolates e tudo mais o que ele pedia. Fazia seu papel de avó: estragar o neto.

Ele então voltava pra casa todo caprichoso, comparando a casa dela com a nossa.

- Na casa da vovó tem doce toda hora. Ela me dá! e fazia cara ruim.
-Eduardo, aqui não é a casa da sua avó. E exatamente por que você tem comido lá, que vai parar de comer por aqui. Vai acabar doente se comer doces todo o tempo.

Ele não se conformava. E eu realmente nem esperava que se conformasse, pois tinha cinco anos e estava na idade de querer muito açúcar.
E lá vinha ele todo dia pedindo de novo. Era só terminar de almoçar.

-Mamãe, tem chiclete?
- Não, Edu. Chiclete dá cárie. Ninguém aqui tá querendo isso. Tem gelatina de sobremesa. Muito mais gostoso e saudável, eu mentia sobre a parte do gostoso. Por que desde criança sempre fui apaixonada por chicle.

Ele fazia cara ruim de novo e dizia.

- Tô doido pra chegar o dia de ir pra casa da vovó! Aposto que lá vai ter um tanto de doces me esperando. Vai ter muito chiclete pra eu fazer bola. E eu vou comer uma caixa de bombom so-zi-nho. Ele fazia questão de falar bem claro, me afrontando.

Esse exagero em dar para a criança tanta guloseima assim, me fazia querer ir lá na casa da minha sogra conversar sobre isso, e pedi-la que não o fizesse mais. Pois Edu estava ficando mal acostumado e até grosseiro comigo. Mas conhecendo a sogra que tenho, ela diria que isso é uma intervenção na educação que está dando pra ele. Achei melhor nem tentar. Deixaria a velha exagerar lá e seria rígida em minha casa. Sem discussão.

Até que me lembrei, de súbito, que quando eu era criança e estava lá pelos meus sete anos, também era muito viciada em doces fabricados. Meu pai tentava fazer-me comer mel para matar a vontade dos doces, mas eu não gostava e nem queria. Então, um dia, ele chegou em casa com um pote del mel meio anormal. Havia alguma coisa grande e inteira mergulhada ali. Era o favo. Eu nunca tinha visto nem ouvido falar. Mas papai chegou dizendo que era chiclete de mel. Me deu pra provar e eu adorei. Realmente dava pra mascar como um chiclete normal, mas perdia o doce logo. Só que esse problema era logo resolvido. Uma colher de mel na boca e lá estava o doce de novo. O outro problema sem solução era que não dava pra fazer bola com o favo do mel. Mas eu não ligava e continuava mascando.

O plano do meu pai comigo deu certo, por que não daria certo com Edu? No mesmo dia, comprei o mel com favo e guardei. Era surpresa.
Depois do almoço, Edu, que já entendera que não tinha doces como na casa da avó, nem perguntava mais. Comia gelatina ou qualquer outra coisa sem resistir. Antes de o servir de sobremesa, eu disse:

-Edu, tem chiclete.

Ele abriu os olhos surpreso.

- Verdade, mamãe? Me dá?

Fui ao armário da cozinha e voltei com o pote de mel. Ele olhava com estranheza eu cortar o favo. Coloquei bastante mel e pus na boca dele. Que mastigava feliz e assustado. Mas não dizia nada.
Saiu andando pela casa, saboreando a guloseima nova. E eu disse:

-Quando o doce acabar, pode vir aqui que a gente resolve isso.

Eu só tinha medo da pergunta sem resposta. Eu sabia que ele faria pois era curioso e perguntão, mas não sabia a resposta que daria. E sem resposta, ele não ia querer mais do ''chiclete saudável'' e tornaria a falar que ''na casa da vovó é melhor''.

Eu juntava os pratos da mesa, quando escuto um grito lá de dentro:

-Mamãe, como é que faz bola com esse seu chiclete?

Criança é fogo!

H.Reis