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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Virei adulta de uma chuva pra outra

Comprei uma sombrinha e virei adulta! Simples assim.
Não sei se faz sentido, se bate ou confere com a ideia de ''gente grande'' que você tem. Mas eu vou explicar a minha e você vai entender o fato de eu ter saído da adolescência e entrado na fase adulta por menos de vinte reais.

Quando eu era pequena e andava com alguém sempre mais velho e responsável que eu ao lado, e começava a chuviscar, a pessoa tirava uma sombrinha ou um guarda chuva da bolsa e pronto. Estávamos todos protegidos contra os pingos celestes.
Eu cresci e comecei a andar sozinha, ir de um lugar ao outro sem companhia, sair e pronto... me vi sempre pegando chuva.
Tinha que ligar pra alguém( leia mãe ou pai) me buscar de carro, me dar carona de sombrinha e sempre me dar uma bronca básica:

- Como é que você sai de casa sem sombrinha, Helena?

E minha desculpa era sempre:

-Eu não tenho!

Mas um dia, sem querer, eu tive!

Havia ido fazer companhia pra minha irmã, que estava indo à Feira dos Produtores comprar ração pro gato ( ?). E do nada, sem motivo ou desmotivo, começa a chover. Nós, lá dentro, com a mesada recentemente recebida e querendo arrumar desculpa pra comprar alguma coisa, tivemos que comprar sombrinhas.
Foi a maior animação pra escolher a que mais combinava com cada uma de nós. Parecíamos crianças escolhendo sorvete pela cor. E compramos.

Ao sair da Feira, uma sensação estranha, adulta e adúltera me invadiu. Era como se eu estivesse traindo a minha infância. Minha irmã e eu (duas eternas crianças companheiras) sozinhas na rua, na chuva e com sombrinhas? Isso não entrava na minha cabeça.
Se fôssemos mais novas, estaríamos sem dinheiro, e iríamos embora na chuva, encharcadas e pisando forte nas poças recém-formadas. Morrendo de rir.

Mas não. Viramos adultas de uma hora pra outra e sem perceber. E agora eu ando com essa sombrinha dentro da bolsa. Ela parece sombra, vai comigo pra qualquer canto.

Um dia eu ainda faço uma pirraça. Finjo que não a vi no fundo da mochila, pego o celular e ligo:

-Pai, vem me buscar! Tá chovendo aqui. Eu ainda sou criança.

H.Reis