Páginas

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Felicidade

Cidade pequena é assim.
Solta pipa, compra pipoca, vê menino correr perigo.
Carro vem, carroça chega e se encontram na esquina.
O dono do carro diz:
‘’Ô, sangue bão!’’
O carroceiro responde:
‘’Ô, meu irmãozinho!’’
E seguem a vida em frente na estreita estradinha.

Pé no chão, nas pedras da rua principal,
E o menino corre de baixo a cima, de cima a baixo;
Vendo sua pipa cair,
Vendo a menina bonita passar,
E a vida passar junto com ela.
E assim já perdeu a pipa,
Mas a menina continua lá,
E a vida mais viva ainda está
Na cabeça e no coração do menino.

A menina bonita que passa
Sente o vento lamber os cabelos
E as pernas que o pai não deixa mostrar.
Mas as pernas são exteriores;
Sentem as delicias das ruas,
Mesmo que dentro das saias.
- "Papai não sabe de nada!"

A dona de casa saiu da feira,
E vai passar na costureira
Pra encomendar vestido pra filha mais velha que vai se casar.
A dona de casa vai fazer a festa
Feijoada, torresmo, doce de leite
E pra beber? Cachaça ardidinha que não há melhor
Pra festejar? Não o casamento
Casamento é pretexto.

Vamos festejar o carro, a carroça
O menino, a pipa
Vamos festejar a menina, as pernas, as saias
A dona de casa e seu amor pelo amor
Vamos festejar a vida que sopra no coração
dessa cidade pequena.

H.Reis

domingo, 8 de maio de 2011

Momento Adélia


Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

(Adélia Prado)