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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Releitura de ''Destinatário Ausente''

Grafite: ameaça vil ao verso que não quis acordar.

A tua morada? Oceano frio que sonho em tocar as pontas.

Os meus olhos ainda entornam a ponta estragada, sem cor.

E você, que pinta de asma essa ponte sem resto de humor?

Teu corpo que nem me emoldura com os braços

e reduz ao afago sem tinta o meu tão querido quadro

Sonha, estremece, mergulha e se embebeda

de águas que afogam mil versos de sequidão.

O pôr-do-sol em tuas narinas : sente-se e sinta-se como tal.

Esta rotina rotina rotina te amarela, tão espaçosa que expulsa o verso para abaixo dali

Você é completo, abusivo. No mais alto teor de comparação.

Mergulha cego no raso da vida.

Convicto da TV que vela teu sono: és tu apenas um brilho.

Leitor? Leiturista : você só serve para uniformes, letrista.

Nu está que nada o desgelo da poesia.

Mas a nudez só traja as almas frágeis.

A pureza dessa água só bebe a imagem de corpos vazios, tão cheios de ocaso quanto a própria rosa do instinto

A eternidade fez questão de morrer em você,amigo.

Você dorme enquanto estremeço, esqueça!

Não passamos da prosa de um circo:

Escrevo para as almas que dançam conforme o hino do Abismo.

( Releitura de Moisés Paim, poeta, poeta, poeta. Namorado, amigo, menino, homem. Eternamente Poeta)

Destinatário ausente

Nada é favorável à minha escrita, ao meu poema.
O papel acabou.
A tinha secou e o lápis quebrou.
E você,leitor?
Você não quer ler, você é preguiçoso e relutante.
Você põe fim ao meu poema sem que eu o autorize.
Você boceja, você levanta, se senta e pede um drink.
Voce reluta a ouvir o que grito.
Você não sente, leitor.
Você tem afazeres mais importantes. Tão importantes que nem tarefas são.
Afazeres te soa melhor.  Palavra mais difícil, rara e bonita.
Você tem seus afazeres.
Afazeres seus que são lavar o carro.
Levar a TV ao conserto ou comprar um terno novo.
Não se vista, leitor.
Vestir-se pra quê? É só um conselho que lhe dou.
O linho não terá orgulho de vestir alguém tão vazio.
 O espelho não terá prazer em ver despir-se alguém tão cheio de nada.
Não perderei mais meu tempo a dar-lhe conselhos, leitor.
Você não está lendo isso.
Pois então, eu estou escrevendo pra quem?

H.Reis