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quarta-feira, 30 de março de 2011

Momento Bandeira

Poema de Finados

Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.


Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.


O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.

(Manuel Bandeira)

domingo, 27 de março de 2011

Loucura Antropofágica.

Eu não publicarei livros.
Nunca.
Eu não publicarei ''centelhas a iluminar imaginação '' de ninguém.

Eu vou digerir Bandeira, vou comer inteira a obra de Drummond.
Eu sou antropofágica.
Eu não presto, não viro do avesso, não caibo em palavras ou em símbolos e pontos.

Eu vou é viver a vida.
Vou publicar minha vida e viver só dentro dela.
Sou o puro Surrealismo.

H.Reis

sexta-feira, 18 de março de 2011

Eu Faísca

Eu sou morena,
Eu sou menina,
Sou quase mulher.

Eu sou dos olhos
Sou da boca,
Sou carvão.

Deixo marcas de lábios, pele,
Luar, vida, meia-morte, solidão.

Minha caneta é mais fraca,
E por isso não exprime
O desejo e a força
Que me meu carvão em ti imprimiria.

Moro em ti, habito em nós.
Há espaço pra minha boca, pro meu carvão
E pros meus olhos sagazes.

Que te deixam encabulado só de encará-los.

H.Reis

terça-feira, 15 de março de 2011

De Henrique Vaz

Helena menina
Helena morena
Helena mulher

Helena rima
Helena poema
Helena me quer?

(De Henrique Vaz para Helena Reis)

domingo, 13 de março de 2011

Revolução

Produzo poemas em minha cabeça
assim como tecidos em teares na Revolução Industrial
É rápido, veloz, inacreditável, esquecível.

A poesia, matéria prima de meu ''tecido'', é viva
é voz, é pulo, é pão.
Sustenta-me o tempo todo,
sustenta o ar e o coração.

Meus teares(meus neurônios) não se cansam,
não estragam, mas envelhecem aos poucos.
Aproveito-me dessa velhice, dessa experiência que eu não peço.
A dor, a tristeza e as profundas sensações vêm junto.

Meus poemas não exploram ninguém,
não matam crianças, não cansam as mães, não roubam os pais.
Só vivem no mundo, na esperança de serem lidos, vividos
odiados, amados, copiados...

Meus poemas viram gente.
Tem sentimento puro e razão.
É gente rápida, é gente veloz
É gente que mexe na História,
É gente inacreditável,
É gente inesquecível.

H.Reis

terça-feira, 1 de março de 2011

Beijo guardado

Tenho aqui do lado de minha casa vizinhos barulhentos. Vizinhos barulhentos que reproduziram filhos barulhentos. Filhos tais que vêem para debaixo da minha janela brincar de esconde-esconde à noite. Sempre achei essa brincadeira à essa hora muito estranha - minha mãe mesmo, quando eu era criança, não me deixava brincar disso nesse horário, dizia ser ''muito perigoso''.

Até que nesse domingo passado à noitinha estava eu a vagar pela casa, sem nada pra fazer ou pra ver e então resolvi admirar minha paisagem da janela. Não que seja grande coisa - um prédio pra lá, outro pra cá e umas árvores incrustadas nesse meio- pra não poderem dizer que não há verde por aqui. Debrucei os braços no parapeito incômodo da janela e depois de mirar alguns minutos minha paisagem individual, comecei a ouvir uns sussurros.
Custei para conseguir identificar de quem eram aqueles barulhinhos que vinham de debaixo do meu parapeito.
Prestei bem atenção. Eram o resultado da reprodução dos vizinhos barulhentos, mas pareciam que ali se encontravam em versão discreta 2.0.
Parecia ter ali três pré-adolescentes, pois contavam a idade um para o outro:

-Eu tenho 11 e você, Gustavo?
-Eu também, respondia Gustavo.
Gabi, sem ninguém perguntar, disse ter dez.

Gustavo, depois de um momento de hesitação ansiosa e nervosa, perguntou a Emanuele:

- Cê já beijou na boca?

Emanuele, dando uma de boa samaritana, desviou o assunto:

- Minha mãe disse que me deixa namorar em casa só depois dos 12. Falta menos de um ano, deu um riso assanhado e prosseguiu: mas enquanto isso eu beijo no cinema.

Gustavo abriu bem os olhos, e depois voltou ao normal. Não podia dar bandeira, Emanuele nunca poderia saber que ele não havia ainda beijado, muito menos no escuro de um cinema.
Depois de ouvir estupefata a revelação de Emanuele, Gabi percebeu que estava sobrando ali; agarrou sua boneca de pano e desistiu de brincar de esconde-esconde naquele espaço, com aquelas companhias.

Emanuele, menina faceira e bem atrevida, tinha olhinhos pretos que nem a noite. Olhou Gustavo com ternura, tentando quase que seduzi-lo. Gustavo não precisava mais de sedução. Só de saber que a menina já tinha beijado, ainda por cima no cinema, ele já estava encantado. Encantado mais pela precocidade dela do que por qualquer outra coisa.
Depois que ela percebeu que seu olhar raro não havia provocado no menino nenhuma reação distinta, Emanuele partiu pro ataque:

- Quer ir no cinema comigo?

Gustavo nem pronunciava palavra. Não havia meios. Pegou na mão de Emanuele, chegou o rosto perto do dela e quase encostaram os lábios. Mas não. Gustavo se conteve. Estava guardando o primeiro beijo pro escuro do cinema.
O ''pega'' da brincadeira já havia desistido de procurá-los depois de ouvir de Gabi:

- Eles tão ali atrás daquela árvore, mas não vai lá não!!!

Agora eu entendi por que mamãe nunca me deixou brincar de esconde-esconde num escurinho, nem que fosse da noite e não do cinema.

H.Reis

Tu e eu em pensamento

Será que aos olhos alheios sou o que sou aos olhos meus?
Será que sou o que quero ser ao me expor ao olhar teu?

E será que danço - e meu corpo é o mesmo
Será que balanço ao cair no solo quente?

E será que minha feição é a mesma,
Será que não me desfaço ao abrir meus poros a ti?

E minha pele? Mantem a mesma frescura de quando estou sozinha a pensar em ti?
A me tocar pensando em ti... E suar ao lembrar de ti?

Não sei , não quero mais saber

Acho que sou mais bonita e amada somente ao me imaginar pra ti.

H.Reis