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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Morena dos olhos.

''À minha querida companheira de poemas e contos incansáveis, de fracassos reconciliáveis, de histórias inacabadas, de romances planejados, de capas arquitetadas, de críticas condenáveis e de uma sinceridade completamente pessoal.''

Vinícius Reis


A cada palavra, morena,
Tu floresces,
Aspirante, e emerges,

Bailas nas trevas bronzeadas
Da própria pele,
Invocando meretrizes,
Outrora, velhas virgens,
Proclamando a história do campo,
Sofrendo por Sabará.

Menina doida que só
Pelo menino da rua ao lado,
Pelo pião que tens guardado,
Pelas cartas que tens te feito chorar,
Pelos versos que vos faz chorar
Por todas as mulheres que tens que guardar...

Ah, morena!
Podes saltar, rodar,
E perder as pedras dos teus vestidos.

Derrubes ao sabor doce da tua boca
As gotas ácidas do teu pensar.

Foste uma boa mãe,
Não tão boa esposa,
Porque não quiseste casar
À moda do povo

E acendeste o alarido,
Das velhas loucas fofoqueiras.
Das cidades de pedra
Das panelas de barro,
Tudo dentro de ti,


Como um velho cheio de anedotas,
Morena, brincaste contigo
Perdida no mundo das palavras,

Mas de um único poema.

Insistes em escorregar
Entre dedos já doídos.
Já cansaste os olhos, morena,
Porque tu trocas de pele,
Trocas de bronze,

Dos rituais clássicos,
Às interpretações mais modernas,
Das geringonças mais loucas
A mais alta tecnologia

Capaz de encolher gente
De fazer torta de limão
Usando apenas papel, caneta e solidão.

Perguntais do que gosta, morena.
Aposto no choro da criança,
Que vem de dentro de ti,
Das tuas asas de papel,

Do teu bailar no carrossel
De como sobes até o céu
De como santificas o sangue de prostitutas
Que corre de tuas mãos quando escreves.

Tua força épica de configurar-te
De não generalizar-te
De falar sobre artes,

Ah, morena, morena.

Tu manipulas as pupilas,
As minhas pupilas,
E manipula meus olhos,
E se faz menina

A menina dos olhos,
A morena dos olhos,
Agridoce que só.

Vinícius Reis

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Poesia que sobe a ladeira

Eu subia a rua pra enfrentar mais um dia normal, mais um dia repetido de minha rotina aceitável. Subia distraída, sem elegância, sem tentar seduzir às 7 da manhã ou sem perceber quem queria seduzir-me àquela hora.
Com meus passos rápidos de quem já estava atrasada o suficiente para não poder bobear, passei indiferente em frente à padaria, que impunha seu vapor quente na rua fria. Não olhei lá pra dentro, não me interessava nada o que acontecia por ali. Vi, que antes de eu alçançar a porta do estabelecimento já citado, um senhor saiu dali, saiu dali com a calma que a terceira idade pedia.
Vestia-se sem exageros, com um suéter amarelo e uma calça azul marinho. A precata marrom só confirmava o gosto por coisas já ultrapassadas pelo tempo, já fora de moda. Mas tudo bem, eu não iria exigir de um senhor, numa quarta feira pela manhã, que se vestisse como mandava o figurino da passarela. Nunca. Isso não fazia o menor sentido, nem pra mim, nem pra ele. Eu até o preferia daquela maneira. Fazia lembrar meu avô.

Eu me certifiquei que ele saíra da padaria por causa sacola plástica que segurava, sacola que continha um saco de papel com pães e, do lado de fora do saco de papel, um jornal levemente dobrado.
Sem dúvida alguma, havia passado na banca, conversado com o vendedor sobre o último placar de seus times e depois seguira para a padaria.
O fato foi que o velhinho despertou em mim um sentimento novo, inédito.
Os passos dele sem pressa, sem marcar o chão pela pressão que faziam no solo, causaram-me certa inveja aparente que chegou a me assustar. O velhinho não tinha compromisso, não tinha preocupações. E eu havia percebido isso extraodinariamente pelo jeito como ele andava na rua, pelo jeito como vivia as primeiras horas da manhã. Foi fantástico e triste. Foi invejoso e admirador.

A visão de o que o velhinho faria ao chegar em casa foi o que mais me marcou. Eu o imaginava entrando calmo, colocando o molho de chaves em cima da mesa e indo direto para a mesa de café. Mesa que ele já havia deixado posta para não ter que arrumar quando chegasse e correr o risco de o pão e as notícias do jornal esfriarem.
O velhinho suspiraria depois de sentar-se, pois a subida da ladeira o havia cansado bastante. Depois de respirar fundo umas três ou quatro vezes, ele poria café na xícara, veria o líquido fumegar instantaneamente e colocaria o nariz logo acima da fumaça para sentir o cheiro do café e julgar-lhe fraco ou forte. O velhinho, para mim, era especialista em cafés. O velhinho para mim, mais que isso, era especialista em coisas simples e sinceras.
Depois de tomar um gole do café e aprová-lo em relação à sua ''fortura'' ou ''fracura'', ele tiraria o pão mais corado de dentro do saco de papel. Sem se preocupar com colesterol ou coisas do tipo, passaria manteiga à vontade, deixando e fazendo-a derreter dentro da massa.
Já na primeira mordida no pãozinho francês, ele tiraria da sacola plástica o jornal, que com uma manchete violenta, o faria franzir a testa, balançar a cabeça negativamente e depois dizer pra si só: ''Onde é que esse mundo vai parar, meu Deus?''
O velhinho nem lê as reportagens que denunciam violência urbana, prefere se alienar nos resultados dos campeonatos estaduais de futebol.

Seu café da manhã, seu paraíso matinal parece infinito. Nunca termina.
O pão sempre estaria quente, o café sempre no ponto, os gols sempre seriam feitos, e as manchetes sempre seriam violentas (para atentá-lo para a realidade pelo menos uma vez em seu dia).
E ele, para minha graça, sempre estaria a ir comprar seu pãozinho, seu jornal. Naquela banca, naquela padaria, naquela ladeira.
Eu sempre o veria, sempre fantasiaria com suas ações, com seus gostos e nem que fosse por um minuto se quer, eu colocaria poesia e simplicidade nos meus dias. Nos meus dias normais, dias que faziam de minha rotina uma vida aceitável.

H.Reis


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Biografia

Eu sou uma poetinha vagabunda que não mede, e por isso não merece as palavras ditas, os sentimentos sinceros ou o papel gasto.
Eu sou a chuva que cai em seu rosto naquele dia nublado em que nada mais parece ter solução. E ás vezes nem tem mesmo.
Nunca fui o Sol, ele brilha demais. Nunca fui a noite, ela é escura em demasia.
Eu sou a vulgaridade encarnada, eu sou a pura indiferença.

H.Reis

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Fatal

Perguntam-me enquanto poeta:
''Pra que rimar amor e dor?''
É inevitável, caro leitor.
É que a mão força a caneta.

Minto e sinto!
Já não culpo mais o tubo de tinta.

Culpo agora a vida, os amantes
Que berram o amor e o veneno pela garganta;
Mas que saem de mãos dadas ao vento bem vindo,
-Dançantes, não dançarinos-
E que se tremem, gemem escondidos por sobre a manta.

É fatal, pois amor e dor se atraem
Tanto na fonética das sílabas,
Quanto sentimentalmente.

H.Reis

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Selo ''Projeto Creativité''


Acabo de receber este lindo Selo de Qualidade Projeto Creativité de Vinícius Reis, dono do blog ''O Príncipe''.

=)

As regras, como não poderiam deixar de ter, são:
repassá-lo a 15 blogs que me agradem e dizer 10 coisas sobre mim.

Nome: Helena Reis ( na verdade tem mais coisa, mas eu desconsidero por não gostar)
Uma música: Não tenho uma música preferida na vida, sou toda movida por fases. E por agora é ''Quelqu'un m'a dit'' de Carla Bruni.

10 coisas sobre yo:

1- Tô tentando aprender francês sozinha.
2- Sou muito indecisa. Não me dê muitas opções, eu não vou saber escolher.
3- Tô com uma ideia pra um romance. Um romance grande, que me renderá um bom livro; se eu souber escrevê-lo bem.
4- Sou inexplicavelmente apaixonada pelo século XIX.
5- Decidi pelo meu 1º curso universitário. Depois de tanto passear por opções; escolhi definitivamente: Comunicação Social( Jornalismo)!
6- Adoro a madrugada. Mais que o dia, mais que a noite branda.
7- Faço amigos muito facilmente; sou muito comunicativa. Até demais.
8- Eu ainda não sei escolher meu livro preferido. Fico entre ''O Retrato de Dorian Gray'' de Oscar Wilde e ''O Encontro Marcado'' de Fernando Sabino.
9- Sou completamente apaixonada por Oscar Wilde. Leio-o sem parar.
10- Quase nunca escrevo poemas no papel; é mesmo muito raro. Meu processo criativo é mais tecnológico. Não que eu goste disso, mas sou assim.

Fiquei feliz com este selo! Muchas gracias.

Agora os meus indicados:

Carpinejar ( pode até ser que ele não veja, mas eu tentei)

Alguns não foram recomendados aqui por já terem sido no blog do Vinícius, é o caso de Tempos de Morangos e Versos Falantes.

Um beijo,

H.Reis

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ao redor dos cílios

É que meus olhos pularam pra dentro de suas pupilas
Não consegui mais tirar.

São teus meus olhos, são minhas tuas pupilas gigantes.
Meus passos estão cercados por sua esclerótica leitosa...
Na qual caminho sem rumo, sem direção.
Só na intuição de onde estará seu coração.

Mas não penses tu que quero ajuda.
Nem para tirar meus olhos de suas meninas
Nem para encontrar logo o caminho das veias.
Só quero que junto comigo, ensine-me a te amar inteira.

H.Reis

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

#5

Eu finjo que me esqueci pra não justificar.
Eu finjo que está frio pra te abraçar.
Eu finjo dor para um carinho,
Só ao fingir não te amar perco o caminho.

H.Reis