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domingo, 8 de agosto de 2010

A máquina que leva e traz

A padaria parecia ter sido a máquina do tempo, pois o casal que saiu dali só poderia ter vindo dos anos 70. Ele, com sua barba e cabelos grandes, blusa negra, magro como a Etiópia, óculos rayban e coturnos. Ela, com uma tatuagem de ombreira, o cabelo preso revoltoso no alto da cabeça, camiseta cinza, calça de ginástica e também os mesmos óculos dele. Se isso é ou não um estilo dos anos 70 eu não sei, mas foi oque me pareceu quando vi os dois.
Passaram debaixo da minha janela sem o menor compromisso com nada, como se estivessem sozinhos num Paraíso muito merecidamente. Riam, davam as mãos e depois as soltavam, como num gesto de esquecimento do outro. Deviam ser namorados, pois a harmonia que os atría remetia isso. Eu, que estava na janela, á toa, só a observar os transeuntes cinzas , olhei-os com certa ternura por passarem ali e deixarem tanta doçura e anos 70 na minha rua e nos meus olhos. Eles se foram do mesmo jeito que vieram, com a falta de compromisso e o esquecimento. E eu imaginei que nunca mais os veria por ali, pois seria muita concidência, não? Mas não foi isso que aconteceu, eles foram e meia hora depois (sim, eu ainda estava na janela) voltaram. Passaram pela rua como se nunca tivessem pisado ali, o tom de novidade era claro nas risadas e olhares. Seguiram o caminho, foram além da padaria e ali devia ser o lugar onde eles retornariam para a década de qual tinham vindo. Tenho certeza que foi ali, foi ali o lugar onde eles encontrariam o caminho de volta pra casa; os anos propícios para aquela doçura e liberdade não eram os meus anos, não era a minha geração. E eles se foram, foram ser felizes num lugar que não existe mais.

H.Reis

2 comentários:

  1. uau! quem diria que aquele casalzinho ia dar tão bom texto!

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  2. obrigada mana, ainda bem que vc viu eles também!
    Sabe que eu não tô mentindo.

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