A padaria parecia ter sido a máquina do tempo, pois o casal que saiu dali só poderia ter vindo dos anos 70. Ele, com sua barba e cabelos grandes, blusa negra, magro como a Etiópia, óculos rayban e coturnos. Ela, com uma tatuagem de ombreira, o cabelo preso revoltoso no alto da cabeça, camiseta cinza, calça de ginástica e também os mesmos óculos dele. Se isso é ou não um estilo dos anos 70 eu não sei, mas foi oque me pareceu quando vi os dois.
Passaram debaixo da minha janela sem o menor compromisso com nada, como se estivessem sozinhos num Paraíso muito merecidamente. Riam, davam as mãos e depois as soltavam, como num gesto de esquecimento do outro. Deviam ser namorados, pois a harmonia que os atría remetia isso. Eu, que estava na janela, á toa, só a observar os transeuntes cinzas , olhei-os com certa ternura por passarem ali e deixarem tanta doçura e anos 70 na minha rua e nos meus olhos. Eles se foram do mesmo jeito que vieram, com a falta de compromisso e o esquecimento. E eu imaginei que nunca mais os veria por ali, pois seria muita concidência, não? Mas não foi isso que aconteceu, eles foram e meia hora depois (sim, eu ainda estava na janela) voltaram. Passaram pela rua como se nunca tivessem pisado ali, o tom de novidade era claro nas risadas e olhares. Seguiram o caminho, foram além da padaria e ali devia ser o lugar onde eles retornariam para a década de qual tinham vindo. Tenho certeza que foi ali, foi ali o lugar onde eles encontrariam o caminho de volta pra casa; os anos propícios para aquela doçura e liberdade não eram os meus anos, não era a minha geração. E eles se foram, foram ser felizes num lugar que não existe mais.
H.Reis
uau! quem diria que aquele casalzinho ia dar tão bom texto!
ResponderExcluirobrigada mana, ainda bem que vc viu eles também!
ResponderExcluirSabe que eu não tô mentindo.