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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Segredo Escarlate [parte 1]

Da porta de vidro da entrada eu a via. Lá estava ela, deslumbrante como sempre, bem no centro da sala redonda com lustres antigos.
Seu vestido vermelho de alta costura combinava perfeitamente com seu caráter: provocante, mas delineado e preciso.

Do primeiro passo da porta não conseguia ver nitidamente seu rosto, mas sabia que não me decepcionaria. Chegando mais perto, com meus passos leves- pois temia que o encanto se fosse em um piscar de olhos - pude ir percebendo mais claramente a perfeição de sua tez branca e pura. Ela não havia corrompido seu rosto com uma maquiagem pesada. Só usava um batom também cor de sangue como o vestido. O intervalo entre o vestido e a boca era perfeito para que o vermelho não ficasse excessivo ou exagerado.

- Querido, como está elegante! Você realmente superou minhas expectativas!, ela falou com aquela voz delicada e fina e deu uma risada gostosa jogando a cabeça para trás.

- São seus olhos, meu amor. Se tem alguém aqui que está deslumbrante é você!, falei isso pegando sua mão direita e a fazendo girar no centro da sala redonda com lustres antigos.

- Oh-oh! Eu não disse que você está deslumbrante, disse que está elegante. É diferente; ela disse com um rosto sério, depois a face semblanteou ironia e ela riu de novo. Não se assuste, meu bem, estou mesmo um pouco fora de mim. Bebi um drink enquanto você não chegava.

- Ah, sim. Tudo bem, prefiro mesmo você assim, mais livre e divertida. Quando não bebe, você chega a ficar séria demais.

Ela não parece ter dado a mínima importância ao meu comentário e disse:

- Vamos ao jardim? James nos servirá algo gelado enquanto contemplamos o outro e as flores lá de fora.

- Claro.

O caminho da casa até o jardim era curto e ela ia na minha frente. Não ia fazer sala pra mim ou me fazer sentir uma visita, eu já previa.

Chegando ao jardim, avistei logo a mesa e as cadeiras de ferro pintadas de branco. Aquele cenário já fôra palco de muitas conversas e risadas. Sentamo-nos e esperamos James chagar com o ''algo gelado''. Enquanto esperávamos, Beatrice acendeu um cigarro e me ofereceu.

- Quer, querido? Você está precisando soltar umas baforadas de fumaça pra tirar esse peso da sua alma. Se não se descarregar, não vai aguentar por muito tempo. Vamos, pegue um.

Não ia retrucá-la. Não valia a pena. Os argumentos dela eram sempre mais fortes. Peguei o cigarro, acendi, mas não fumaria, deixaria ele se queimar por inteiro até que acabasse.
James chegou com os drinks na bandeja de prata que reluzia.

- Beatrice, pensei que era um chá gelado! Você sabe que eu não bebo, não fumo, não tenho vícios! James, por favor, leve de volta esse àlcool e me traga um chá, nem que seja de carqueja.

Beatrice riu mas não reagiu negativamente. Esperou James desaparecer e disse bem devagar e num tom desafiador:

- Não bebe, não fuma, não tem vícios, mas tem um segredo. E eu sei qual é. Desde o dia que me contou, Harry, tenho uma visão um pouco perversa de você. Nunca mais será o mesmo pra mim.
Por que fez isso, meu amor? Eu te amava um pouco mais antes.

Do drink que ela havia tomado antes de eu chegar não haviam mais resquícios, ela estava sóbria e lúcida. Falava a verdade. Eu já havia percebido seu afastamento de mim desde o dia que havia contado a ela meu segredo. Minha expressão foi ficando vermelha, sombria e enraivecida com a revelação do que antes era só uma observação minha. Eu não poderia suportar aquela indiferença, nem que fosse mínima ou reprimida.

Beatrice bebeu um gole do drink rosado. O líquido desceu pelo interior de seu pescoço fino e aquilo me chamou a atenção. Minha raiva era latente, pulsante e interminável. Sem pensar, levantei-me bruscamente da cadeira de ferro e fui com minhas mãos em direção ao pescoço de Beatrice. Ela não teve tempo de reagir.

Matei-a ali mesmo, no centro do jardim, perto do conjunto de ferro pintado de branco. Nos pés da cadeira que ela estava sentada há alguns minutos atrás, haviam gotas respingadas de sangue.

Depois de me dar conta do que havia feito, comecei a observá-la. O colo de seu seio estava molhado com o sangue fresco. Não havia mais o intervalo de pele branca entre o vestido e a boca. Tudo tinha cor escarlate. Os lábios vermelhos - que me diziam coisas loucas e ás vezes verdadeiras - estavam abertos fazendo com que o rosto demonstrasse uma expressão de consolo tardio. O corpo sem vida deitado no verde era sensual mesmo que sem pose premeditada. Beatrice nunca esteve tão linda.

Quando me levantei, cansado e aliviado, sentei-me na mesma cadeira de antes. Respirei fundo e observei a taça na qual ela havia encostado a boca minutos antes. A boca carnuda e maravilhosa. Tão presente e viva. Ela deixou a marca da boca desenhada no copo e o drink pela metade.

Foi melhor matá-la. Não suportaria ela sentindo a cada dia seu amor por mim se esvair mais. Não suportaria que ela me amasse menos que antes. Eu queria aquele amor completo e inteiro. Perfeito e intacto. Pelo menos agora ela não me amava nada e meu segredo estaria para sempre guardado e intocável em seu corpo cor de leite. Em seu corpo provocante, mas delineado e preciso assim como seu caráter que lhe custou o silêncio e a vida.

H.Reis

4 comentários:

  1. Fiquei de visitar seu blog na semana passada, desculpe a demora...
    Enfim, seus textos continuam ótimos, como sempre! Gostei muito desse, tem um ar de mistério e um final surpreendente. Fiquei louca de imaginar qual seria o segredo...
    Beijos.

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  2. Moreninha, que texto é esse?
    de onde você tirou isso tudo?estava esperando um final super romântico...está parecendo aqueles livros que você aguarda o segubdo volume só pra poder ver o final..

    Parabéns

    Beijos

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  3. Nossaa ,fiquei louca pra saber o segredo :$
    mto belo o texto,um final qi eu nem suspeitava..

    Parabéns !

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  4. Meu comentário inculto....no blog da Helena Dona Sabichona! kkkkkk
    Noooooooooossa!!! adorei!! acertou na mosca!amo coisas assim...sem mta melodia e acontecimentos marcantes!! Se eu falar q gostei dela ter morrido vai ser sacanagem mas foi mto legal!!haha
    agora vc lança uma série dessa história q eu venho visitar seu blog sempre!!
    Beijaooo!

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