Vinícius Reis
A cada palavra, morena,
Tu floresces,
Aspirante, e emerges,
Bailas nas trevas bronzeadas
Da própria pele,
Invocando meretrizes,
Outrora, velhas virgens,
Proclamando a história do campo,
Sofrendo por Sabará.
Menina doida que só
Pelo menino da rua ao lado,
Pelo pião que tens guardado,
Pelas cartas que tens te feito chorar,
Pelos versos que vos faz chorar
Por todas as mulheres que tens que guardar...
Ah, morena!
Podes saltar, rodar,
E perder as pedras dos teus vestidos.
Derrubes ao sabor doce da tua boca
As gotas ácidas do teu pensar.
Foste uma boa mãe,
Não tão boa esposa,
Porque não quiseste casar
À moda do povo
E acendeste o alarido,
Das velhas loucas fofoqueiras.
Das cidades de pedra
Das panelas de barro,
Tudo dentro de ti,
Como um velho cheio de anedotas,
Morena, brincaste contigo
Perdida no mundo das palavras,
Mas de um único poema.
Insistes em escorregar
Entre dedos já doídos.
Já cansaste os olhos, morena,
Porque tu trocas de pele,
Trocas de bronze,
Dos rituais clássicos,
Às interpretações mais modernas,
Das geringonças mais loucas
A mais alta tecnologia
Capaz de encolher gente
De fazer torta de limão
Usando apenas papel, caneta e solidão.
Perguntais do que gosta, morena.
Aposto no choro da criança,
Que vem de dentro de ti,
Das tuas asas de papel,
Do teu bailar no carrossel
De como sobes até o céu
De como santificas o sangue de prostitutas
Que corre de tuas mãos quando escreves.
Tua força épica de configurar-te
De não generalizar-te
De falar sobre artes,
Ah, morena, morena.
Tu manipulas as pupilas,
As minhas pupilas,
E manipula meus olhos,
E se faz menina
A menina dos olhos,
A morena dos olhos,
Agridoce que só.
Vinícius Reis