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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Casa amarela, menina cega

Numa casa amarela bem velha daquela rua de pedra morava uma menina cega. Todos tinham dó da menina por ela ser cega, por ela não poder ver o mundo, as cores e a natureza delicada de sua cidadezinha.

A menina não sofria por não ver. Ela era satisfeita por poder sentir delícias comestíveis, delícias ouvíveis, tocáveis e olfativas. A menina, na realidade, não via mesmo, mas enxergava. Enxergava mais que muitas pessoas com olhos que viam muito bem. Enxergava o bem e o mal. Enxergava a vida em si, e para isso - muitos de nossos contemporâneos ainda hoje não perceberam tal detalhe - e para isso não se necessita olhos, boca, nariz ou ouvidos. Necessita-se apenas uma alma que saiba amar de verdade.

H.Reis

Um comentário:

  1. Isso me lembra aquele texto "Porífero". Mas o papel da alma e a inutilidade dos sentidos carnais se demonstra duma maneira mais madura. Estou pasmo com sua textualidade e denotação de de idéias.

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