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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Criança é fogo

Cotinha e a nova vizinha

Em nossa casa tinha um galinheiro enorme que até patos e marrecos se misturavam com a galinhada. Eduardo adorava aquela barulheira, acordava com o cocoricó de manhã e logo ia lá dar milho às aves custosas. Eram muitas as aves, mas Edu, particularmente, gostava mais de uma: Cotinha.

Cotinha era uma galinha d'angola arisca, que vivia correndo e fazendo bagunça pelo terreiro. Edu gostava dela, tenho certeza, exatamente por esse jeito dela que correspondia ao dele, menino arteiro. As pintinhas brancas espalhadas pelas penas pretas o divertia. Várias vezes o peguei, agachado no chão de terra do terreiro,contando as pintinhas da querida pintadinha, mas ele desistia logo depois. Sua inquietude e hiperatividade não o deixavam chegar nem em 15 pontos brancos.

Mudou-se então, nesse tempo, para perto de nossa casa uma vizinha nova; uma moça que havia vindo do Mato Grosso e não tinha parentes por perto.Um detalhe: tinha vitiligo por todo o corpo. Edu e eu, num dia, enquanto voltávamos da escolinha para casa, avistamos a tal nova vizinha sentada no passeio rente ao seu portão. Cumprimentamo-nos, e eu, como sempre quero conhecer quem mora perto de mim, fui tentar puxar assunto e disse:

- Olá, vi que você se mudou pra cá faz pouco tempo. Como é seu nome?

- É, hoje faz uma semana que cheguei aqui. Meu nome é Conceição, mas pode me chamar de Cotinha, todo mundo me chamava assim lá em Campo Grande; sinto-me mais à vontade se me chamar assim.

Eu ia responder á moça, quando Edu, que se encontrava distraído, olhando os passarinhos e os desenhos que as nuvens formavam no céu, quando ouviu o nome familiar, virou-se logo para a nova mulher e disse, cheio de entusiasmo e novidade:

- Cotinha? Nossa, que legal, moça. Minha galinha também chama Cotinha. Vamo lá em casa procê ver ela! Sabia que cê até parece com ela um pouquinho? Essas marquinhas brancas aqui.

Criança é fogo!

H.Reis

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