Tive esse estalo outro dia ao estar dentro de um ônibus fazendo uma pequena viagem, coisa que faço quase toda semana, ao ir passear em minha cidade natal.
O ônibus estava cheio, eu estava em pé e também a maioria do passageiros.
Entrou então um rapaz lá pros seus 29 anos, mas isso não importa. Entrou, quietou-se em pé num lugar e começou a conversar com algum conhecido que já estava sentado por ali. Logo depois entra uma moça, até bonita, com uns olhos claros e o cabelo castanho, mas isso também não faz a mínima diferença, só gosto de caracterizar os participantes para fazer dessa leitura uma coisa mais imaginativa ou divertida. A moça, enquanto pagava sua passagem, reconheceu o tal rapaz de 29 anos, sorriu pra ele e perguntou :
- Tudo joia?
Ele, ao invés de respondê-la fez a mesma pergunta, só que do seu jeito mais malandro:
-Beleza?
E ficou assim! Ela não respondeu, ele não respondeu. E se nenhum dos dois estiver ''joia'' ou ''beleza''? Como fica? O que se faz? Mas isso também não satisfaz a minha pergunta, por que se os dois tivessem respondido à perguntas, respectivamente, as respostas seriam as mesmas:
- ''Tudo bem sim.''
- '' Tô Tranquilo.''
Mas eu duvido que esteja tudo assim ás mil maravilhas. Assim como não está nesse nosso planeta. Faz-se perguntas a todo momento: ''Por que as torres gêmeas foram implodidas?''
''Por que aquele menino entrou na escola que estudava e matou 13 crianças?'' E então vêm-se as respostas mais absurdas, que não respondem nem justificam tais atos.
Sei que chega a ser quase ridículo comparar a falta de resposta para esses fatos com a falta de resposta para um ''tudo joia?'', mas fez-me formular a teoria de que é um mero reflexo. As pessoas desistem de responder, pois elas também não tem respostas para as coisas mais questionáveis e que realmente precisam ser esclarecidas.
Uma vez, ao conversar sobre um pouco disso com um colega distante mas querido, ele disse:
''-Criatividade e Rotina são palavras antagônicas, deixa pra lá. É assim que funciona: respostas previsíveis pra perguntas da mesma laia. Na inevitável pergunta "tudo bem?", é muito mais fácil dizer que está tudo ótimo do que dissertar sobre as peculiaridades da alma, do momento e da puta que o pariu em crise existencial. Por trás dos "tudo ótimo", há sempre uma pequena fração de sutilezas a serem consideradas. Enfim, falei demais. ''
Enfim, pensei demais. Mas eu realmente espero que esteja tudo bem pelo menos para aquele casal do ônibus.
H.Reis
Apesar das distâncias, a cada encontro vejo uma Helena mais madura e articulada. Sinta-se feliz, já que existem pessoas que fazem o caminho inverso! rs, um beijo.
ResponderExcluirHeleninha, querida, parabéns!! Achei muito bacana a sua reflexãoo!! Realmente, eh como se hoje nem pudéssemos responder "não, não estou nada bem" e isso muitas vezes me irrita!! Vc conseguiu pensar essa questão de uma forma como eu nunca havia pensado!! Continue sempre assim, viu?? Beijãooo :)
ResponderExcluirCurti!
ResponderExcluirQ isso!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirlindo helena, serio, quase chorei!!!
eh essa consciencia critica q falta no nosso mundo, e hj passou uma reportagem sobre ganancia e vi totalmente ligada a sua cronica!!!!
vo levar essa cronica pro filhos de maria!!
lindo favelaaaaa!!!!
bejaaaaaaaao
Gostei muito de sua reflexão filosófica e o resultado que obteve dela. De fato, é muito mais cômodo evitar amargurar-se com questões metafísicas e, assim, deixar-se vencer pelo monótono exercício de responder tudo com um 'to bem!' ou um 'tudo beleza!' do que tentar dissertar sobre a constante crise existencial da qual somos todos reféns.
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